Dona Santinha era viúva; ficara com uma casinha e uma pequena pensão deixada pelo finado Evaristo. Passava os dias entre seus afazeres na casa e a igreja. Nem mesmo se poderia dizer que fosse muito religiosa, mas acreditava em milagres. Na verdade, ela acreditava mais em troca de favores do que na fé propriamente dita.Também não se podia dizer que entendia alguma coisa de matemática, pois um dia achou que ia levar vantagens fazendo trocas com seus santos milagrosos. Na sua fé meio atrapalhada, ela cumpria com rigor as suas promessas. Uma vez, ganhou no jogo do bicho e resolveu cumprir o que prometera, indo a pé de sapatos fechados desde a Penha, onde morava, até a igreja de São Judas Tadeu, no Jabaquara. Lá se foram uns bons 35 quilômetros e duas semanas de pés inchados, escalda-pés, remédios pros calos e meia-sola no sapato. Foi-se o dinheiro do bicho.
Mas desta vez ia dar certo. A troca ia ser boa. Entrou na igreja, foi a um primeiro Santo, deu uma rezadinha e foi logo dizendo:
- Se dobrares o dinheiro que eu tenho nesta bolsa, deixo na tua caixinha de esmolas R$50,00.
E assim aconteceu. O Santo aceitou a oferta e ela deixou R$50,00.
No segundo Santo, disse a mesma coisa; obteve o mesmo favor do Santo e deixou R$50,00.
No terceiro Santo, ela propôs o mesmo negócio; repetiu-se o milagre, e dona Santinha deixou R$50,00 para a sua caixinha.
Deu uma rezadinha na saída, benzeu-se, e toda lampeira foi conferir o lucro, verificando que não tinha mais nada na bolsa. Desanimada, disse:
- Acho que deveria antes aprender um pouco de matemática.
Pergunta-se agora: com que quantia dona Santinha entrou na igreja?
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